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segunda-feira, 4 de junho de 2012

orientações para a processual

Manifestações culturais afro-americanas: O negro na Música e/ou literatura nos Estados Unidos e no Brasil
Professores André, Christian, Cristiane e Gezoel

Conteúdo e critério específico de história:

Articular a marginalização das manifestações culturais afro-americanas com seus respectivos contextos históricas formadores. Exemplos:
* Guerra Civil Americana – movimentos musicais e religiosos nos Estados do sul dos Estados Unidos após a guerra civil (Blues, Jazz, Spirituals);
* luta pelos direitos civis (anos 1960) – O Contexto de Martin Luther King, movimento Black Power (Black music);
* Abolição gradativa da escravidão (Brasil) – música e religiosidade nas senzalas, a origem das religiões afro-brasileiras.
* Marginalização da população urbana afrodescendente (transição para a República). Samba e chorinho nas grandes cidades (Rio de Janeiro e São Paulo)

Sugestões de sites

Conteúdo e critério específico de sociologia:
* Lutas pelos direitos civis, políticos e sociais das populações afrodescendentes;
* reconhecimento da cidadania;
* movimentos sociais afirmativos;
* políticas públicas para população afrodescendente;
* Cultura e resistência – heranças das comunidades quilombolas.

Conteúdo e critério específico de LP:
* A representação do negro na Literatura Brasileira, na obra: “O Bom Crioulo” e outros (Anjo Negro, O Mulato, Sítio do Pica-Pau-Amarelo, Macunaíma).
* Elementos africanos em ritmos e letras de músicas (“Orixás, berimbau...”).
* Contribuição de palavras africanas na formação do léxico do Português brasileiro.
* Levantamento de compositores literários (Cruz e Souza, Machado de Assis e outros) e músicos negros (Baden Powel, Seu Jorge, Djavan e outros) e a receptividade das obras pelo público na época da produção e posterior a elas.


Avaliação:

* Trabalho escrito – 1,0 pontos
Deve conter:
a) Capa
b) Índice
c) Desenvolvimento
d) Conclusão
e) Bibliografia
* Cada item valendo 0.2

* Material de apoio – 1.0 pontos
Opções para elaboração do material de apoio:
a) aula em Power point;
b) material áudio/visual;
c) Cartazes e folders;

Sugestão de Temas e personalidades a serem pesquisados:

 01) Chorinho:
* história do gênero musical
* locais onde se tocava
* Compositores negros famosos
* Características do gênero
Personalidade: Pixinguinha

02) Jazz

* história do gênero musical
* locais onde se tocava
* Compositores negros famosos
Personalidades: (sugestões) Ella Fitzgerald, Louis Armstrong, Elza Soares

03) Blues
* história do gênero musical
* locais onde se tocava
* Compositores negros famosos
Personalidades: B.B. King, Buddy Guy

04) Capoeira
História da luta e da dança.
Local – espaço social onde a dança se realizava

05) Hip-hop/Rap
* história do gênero musical
* O espaço social da periferia e a condição de marginalização da música e do negro
* Compositores negros famosos
* temas abordados na música

06) Samba/lundu e maxixe

* história do gênero musical
* locais onde se tocava
* Compositores negros famosos
07) Música e religiosidade afro-brasileira (cantigas de terreiro)
* Discriminação da religiosidade africana no Brasil Império
* História da umbanda, candomblé e outras religiões afro-brasileiras
* A música no terreiro.
08) As divas negras (Cantoras)
09) Cantores Negros brasileiros – Cultura e contra-cultura.
 10) Além das sugestões aqui apresentadas, cada turma obrigatoriamente deverá ter uma equipe trabalhando com literatura.

Datas previstas para elaboração e apresentação na semana de 11/06 até 15/06, utilizando uma aula de português e uma de sociologia.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Música negra, cultura e identidade numa ótica transnacional


Eu andava com saudades da pesquisa acadêmica, decidi reler uns textos que escrevi, rascunhos, enfim, e resgatei este pequeno texto. Tem um aspecto mais ensaístico, e o fiz para matar saudades da época em que eu não me prendia a livros didáticos e apostilas para produzir meus textos. 



Música negra, identidade e cultura musical numa ótica transnacional.  

                                                                                                        André Carlos Moreira Mendes 

            A rigor, pensar sobre a música no Brasil faz muito tempo que é pensar a partir de duas vertentes, ambas extremamente nacionalistas. A primeira destaca as manifestações da cultura popular, valoriza uma idéia de que o popular é a essência, o elemento que identifica a Nação. Isso remete a noção Gramsciana de nacional-popular. Nessa conformação, as músicas étnicas, urbanas ou rurais e toda a diversidade da cultura musical presente no Brasil autenticariam a brasilidade. É esse popular que é base da cultura nacional.
            A outra vertente entende que o que é nacional está relacionado a um ritual simbólico de antropofagia, em que todo o elemento cultural externo é aproveitado pelo que já existe internamente. Simbolicamente essa antropofagia está associada com a prática antropofágica da cultura indígena Tupi. Esse elemento externo é apropriado pelo interno e a partir do contato cultural se é criado algo novo. É esse algo novo que é o nacional. Daí  advém a máxima modernista de que a cultura brasileira é Antropofágica.
            É destaque dentro do pensamento, da produção sociológica, jornalística e historiográfica sobre música brasileira a questão da música negra. Em geral, mesmo quando se diverge sobre a origem dos elementos musicais, o Samba é considerado o símbolo da brasilidade, o gênero matriz da música brasileira, originalmente negro.
            Curiosamente, brancos atribuíram à esse gênero musical a ideia de que ele é o ícone da brasilidade. Haveria uma preocupação em se dar um espaço para a cultura negra, uma busca, um resgate, um gesto solidário para com os negros, dada a trágica experiência escravista brasileira? Penso que não.
            A busca e a caracterização dessa música como nacional não está relacionada a uma posição solidária, com vistas a equiparar, a promover uma igualdade entre brancos e negros. No caso brasileiro, a preocupação é buscar um gênero musical que possa consolidar uma música nacional, uma cultura nacional. Essa busca se dá basicamente por dois motivos.
Durante a década de 1930, com a ditadura Varguista, há uma preocupação em integrar o território culturalmente. Pela primeira vez há uma preocupação maior com o ensino de língua portuguesa. O Estado procura difundir os meios de comunicação no intuito de integrar a nação.
            É desse período a oficialização do carnaval como a grande festa popular do Brasil. Carnaval passa a se tornar sinônimo de samba. Entretanto, havia um pequeno problema. O samba era indisciplinado demais para as concepções do Estado. Pensemos que é nessa época que está ocorrendo uma transformação radical no Brasil. Apesar de a abolição da escravidão ter sido no século XIX, é nas décadas de 1930 e 1940 que passa a haver um maior intento de modernizar o Brasil. As relações de trabalho tipicamente capitalistas passam a ser valorizadas.
            O samba, até então, tinha uma rebeldia, uma reação negativa ao mundo do trabalho. É dessa época a caracterização da figura do “malandro”. Como gênero musical popular, o samba auxiliaria o Estado na integração nacional, mas para isso, precisava se civilizar, precisava entrar em comunhão com as ideias novas, de modernidade. O grande samba que nos mostra essa busca por uma nação, civilizada, perfeita e adequada aos ideais das novas relações de trabalho é “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso (um compositor branco).
            Se essa música negra foi aceita pela elite brasileira (com ideais políticos de direita), como gênero sintetizador da brasilidade, os intelectuais da esquerda também assim a consideraram, mas com outros propósitos.
            Não dá para pensar essa apropriação que a esquerda faz do samba, sem antes pensarmos a questão da Revolução. O ideário comunista da revolução ganha outra perspectiva a partir do pensamento de Gamsci. Para esse autor, a revolução socialista mundial ocorreria com o desenvolvimento de socialismos em cada país, ou seja, cada nação deveria promover a sua própria revolução. Para tal empreitada, o intelectual revolucionário deveria saber agir na formação de uma consciência revolucionária na população. Para tanto, deveria se apropriar de uma linguagem popular e nacional. É com vistas nisso que a esquerda brasileira passa a enxergar o samba, como um meio que pudesse propagar as contradições do capitalismo e divulgar/promover um ideal revolucionário. A figura do malandro é vista com bons olhos, pois ela ia contra a figura do trabalhador disciplinado, que o Estado tentava passar, no intuito de civilizar o samba. Essa figura é valorizada devido ao fato que ela ia contra as relações de trabalho típicas da sociedade industrial capitalística que se formava no Brasil das décadas de 30 e 40. Passa-se a usar a figura do “malandro” com a intenção de formar consciência de classe.
            Percebemos que no período de institucionalização do samba como a música que demonstra a brasilidade, não há uma ação de uma intelectualidade negra, de um movimento negro. Essa é uma realidade que viria a se manifestar anos mais tarde.
            O caso norte americano é diferente. Desde muito cedo, a perspectiva essencialista, a busca por um negro em essência, utilizou-se da música produzida pelos negros norte-americanos como um fator de identificação, de busca por uma identidade negra. Desde muito cedo, a intelectualidade negra se engajou em buscar o seu espaço, a sua cidadania, sua liberdade.
            O caso americano também tem outra característica importante. O racismo presente nos Estados Unidos sempre foi mais declarado que o brasileiro. Se aqui no Brasil o samba negro era incorporado por intelectuais brancos, com orientações políticas diferentes, os americanos brancos tendiam a se afastar da música negra, por ela ser sinônimo de atraso cultural.
 Para tanto, basta observarmos as principais músicas populares americanas. A música do branco americano é o folk, o country. Músicas com compasso binário, acelerada, festiva. A música negra, sãos os spirituals e o blues. E os espaços sociais de cada um desses estilos populares é determinado e específico. O branco não vai ao lugar social da música do negro e vice-versa.[1]
Sendo assim, a trajetória histórica da música negra americana, segundo esses intelectuais remetem diretamente a um passado africano. Mesmo entre alguns brasileiros essa interpretação é hegemônica. Roberto Muggiati[2] ao falar sobre o rock, nos diz que o movimento da contracultura americano, da década de 1960 procurava falar em nome da cultura negra; tentava conceder ao negro um espaço para que ele pudesse expor o seu lamento por uma trajetória segregacionista, desigual e racista. Para esse autor brasileiro, a origem do rock é negra. O grito do rock é a releitura, a aproximação de um passado, onde surge o grito melancólico e triste do escravo negro que desembarca na América. A rebeldia do rock é a própria rebeldia do escravo negro.
A partir da década de 1950, com a expansão econômica e cultural americana, a música estadunidense se dissemina sobre o mundo. Essa disseminação cultural/musical americana muitas vezes foi interpretada como um imperialismo cultural (basta observarmos o fenômeno da Jovem Guarda, uma releitura do rock americano, feita no Brasil. Esse movimento foi diversas vezes caracterizado de alienado e conivente com o imperialismo americano).
Para quem via de fora, a música americana era entendida como elemento da identidade nacional dos Estados Unidos. Apesar da tendência que foi dominante durante décadas em se pensar o rock norte-americano como parte de uma política imperialista,  a divulgação mundial do rock, do blues e do jazz não precisam necessariamente ser interpretadas como  iniciativa maniqueísta e impositiva de se apresentar à outros países um ideal de cultura. O grande diferencial da música como um todo, no século XX em comparação com outros momentos da história, está no fato de que no século passado ela ganha uma característica inédita, que é a racionalização da produção, que na verdade passa a acompanhar toda a esfera de produção cultural. A novidade é a indústria cultural.
Nesse caso, a veiculação mundial do rock e de outras vertentes da música oriunda das comunidades negras não é necessariamente a imposição de uma identidade nacional sobre outras, muito menos da identidade negra sobre a branca. Se fosse este o caso, todos os americanos dos anos 1960 e 1970 cantariam como Tom Jobim em função da projeção do grande compositor brasileiro nas terras do Tio Sam e os contemporâneos vestir-se-iam tal como Carlinhos Brow, que recentemente ganhou projeção mundial por ser um dos candidatos ao Oscar de melhor trilha sonora. Estamos falando de artistas que criaram padrões estéticos musicais transnacionais. Não é a venda de um produto que representa uma identidade nacional, embora este elemento esteja presente. A título de exemplo, ninguém no Brasil passou a se comportar como um inglês nos anos 1960 só por que os Beatles foram um fenômeno musical global. As mulheres americanas não colocaram abacaxis na cabeça por que Carmem Miranda fez uma carreira de grande sucesso nos Estados Unidos.
E apesar de no momento atual observamos um crescimento forte dos movimentos afirmativos que almejam dar para as culturas negras afro americanas o espaço que lhes foi negado no passado, há também observações interessantes acerca das bases que fundamentam tais políticas afirmativas, uma das mais interessantes está em Paul Gilroy[3].
Este autor critica algumas das principais tendências interpretativas da cultura negra, principalmente as perspectivas essencialista e a pluralista. Para ele, a produção da intelectualidade negra engajada, investigando a cultura negra, ainda se baseia muito em conceitos europeus da modernidade, conceitos originados do iluminismo. A produção da intelectualidade negra se engaja em adquirir, de buscar, de fornecer aos negros noções como as de liberdade, de cidadania, de autonomia social e política. Podemos perceber que o autor não se posiciona contra estas buscas, entretanto, ele critica as bases da argumentação que exige esse espaço para o negro.
Para ele, essa busca dos negros ainda se baseiam em conceitos perniciosos como o de absolutismo étnico e o de nacionalidade. Perniciosos na medida em que atualmente as questões políticas e econômicas transcendem as fronteiras nacionais. O absolutismo étnico é criticado, pois essa perspectiva desconsidera a constante troca de informações entre culturas em movimento. Esse etnocentrismo busca uma essência, uma homogeneidade, uma cultura pura, que, a rigor não existe dada as novas concepções de cultura.
É comum se observar que o discurso negro sobre sua música se posiciona de tal forma a afirmar que essa produção musical é o elemento integrador de sua identidade. Em se tendo essa identidade étnica se reivindica uma ideia de nacionalidade para essa cultura.
Isso aconteceu com o blues, aconteceu com o jazz, aconteceu com o rock e acontece com o Rap (hip hop). Quando esses gêneros musicais foram apropriados pela indústria cultural como mercadorias, eles passaram a ser interpretados por artistas que não eram negros, causando uma revolta da população negra, que se sentia usurpada de sua cultura, de sua identidade, consequentemente, atrapalhava a sua reivindicação de nacionalidade. Muggiati fala que quando os brancos começam a cantar rock como os negros escravos, gritando, é em prol de uma iniciativa de incorporar a causa negra como a sua própria causa.
Talvez a grande crítica que se possa fazer com relação a estes pontos de vista, sobre a identidade do rock, a identidade do samba, a identidade da música negra, se apoia muito na argumentação de Gilroy e pode ser usados também alguns pressupostos teóricos acerca da indústria cultural.
A música negra não deveria representar identidades nacionais ou ainda perspectivas etnocêntricas, sob o risco de que a reivindicação anacrônica de nacionalidade pode gerar posturas e pensamentos raciais e fascistas. Um grande pensador da Escola de Frankfurt afirmava que a história deve, entre tantos atributos, dar voz àqueles movimentos sociais e culturais que foram silenciados pelos vencedores e muito desta filosofia da história se observa nos movimentos afirmativos que buscam valorizar o status da arte afro-americana. Tal cultura não precisa ser valorizada pela repressão que teve no passado, por que isso seria reduzir sua especificidade estética. Ela passaria a ter valor apenas por ter sido reprimida. A música e a religiosidade negra possuem riquezas próprias, não precisam da piedade da História para ganhar legitimidade de exposição e manifestação. Outra questão interessante a se pensar é sobre a égide do transnacional.
A música negra tem origem no contato cultural existente no atlântico negro durante a diáspora atlântica. Ela então, não se prende a uma ideia de nacionalidade, como é pensada pela intelectualidade negra. Ela é multicultural e transnacional. Também não podemos pensar que a veiculação da música americana unicamente como uma propagação imperialista de uma cultura. Primeiro por que se observarmos a origem do rock, ele é o contato entre um elemento negro e branco (blues e country). Ou seja, é o contato entre culturas que se dispersaram pelo mundo do atlântico negro, mais precisamente, não se prende a um território nacional, a uma ideia de nação. Segundo, a dinâmica da produção cultural, da indústria cultural,  esta se interessa em vender um produto e não em impor uma cultura. As gravadoras estrangeiras que se instalaram no Brasil nos anos 1970 possuíam nos seus casts uma maioria de artistas brasileiros.[4] Se ela impõe uma cultura, impõe a própria cultura capitalista global e não necessariamente identidades nacionais. Seria um absurdo pressupor que Ivete Sangalo em Nova York seria uma inversão no imperialismo cultural, ou que o sucesso global de artistas como Ramstein (Alemanha) e Lordi (Finlândia) vai nos fazer ser menos brasileiros. A racionalização da produção faz com que as empresas multinacionais da produção cultural (companhias cinematográficas, editoras, gravadoras, entre outras) comercializem o que elas já têm pronto em seus países de origem, simplesmente por que já é um produto acabado, não precisa ser produzido novamente em outro território Não gera custos novos, exceto o de distribuição. O que está no horizonte então é o lucro, e não a imposição cultural nacional.
São estas as sugestões para que a partir das noções apresentadas por Gilroy, de diáspora e da transnacionalidade do Atlântico Negro, possam abrir margens para uma nova leitura, uma nova história da música negra, não desconsiderando o avanço do capitalismo global.



Referências:

ALMEIDA, Cláudio, Cultura e sociedade no Brasil: 1940-1968 :  São Paulo, SP : Atual, 1996;
DIAS, M. T. Os donos da voz: Indústria fonográfica brasileira e mundialização da cultura :  SP,  Bomtempo, 2000
GILROY, Paul. O atlântico negro : Modernidade e dupla consciência : Rio de Janeiro, Ed. 34, 2001;
MUGGIATI, Roberto. Rock: O Grito e o Mito – A  música pop como forma de comunicação e contracultura :  Rio de Janeiro, Vozes, 1983
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O breve Século XX (1914-1991) : Cia. Das Letras, São Paulo, 1999;
HOBSBAWM, Eric História social do Jazz : Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1990



[1] Algo semelhante ocorria no Brasil no final do século XIX, quando ritmos europeus como a marcha e a polca invadem o mundo musical dos brancos, enquanto nos lugares reservados aos negros estavam acontecendo as rodas de choro. Exemplo clássico é a trajetória musical de Chiquinha Gonzaga, pianista branca que freqüentava rodas de choro, indo contra toda a postura segregacionista, racial da época.
[2] MUGGIATI, R. Rock: O Grito e o Mito – A  música pop como forma de comunicação e contracultura :  Rio de Janeiro, Vozes, 1983
[3] GILROY, Paul. O atlântico negro : Modernidade e dupla consciência : Rio de Janeiro, Ed. 34, 2001
[4] DIAS, M. T. Os donos da voz: Indústria fonográfica brasileira e mundialização da cultura :  SP,  Bomtempo, 2000, p. 55

terça-feira, 13 de março de 2012

Dossiê

Muitos alunos vieram perguntar para mim como montar o dossiê e, por mais que já tenha feito várias explicações acerca disso, vou colocar um roteiro para vocês aqui no Blog.

Um dia vocês vão fazer pesquisas numa faculdade, numa universidade e lá a coisa será bem diferente. Algumas coisas serão extremamente importantes, entre elas:

Objeto de pesquisa
Hipótese
Fundamentação
Resultados.

A ideia de fazer o dossiê com os personagens da Revolução Francesa vem a ser um pequeno preparatório para uma pesquisa mais séria. Primeiramente, vocês deverão selecionar o OBJETO de pesquisa, que no nosso caso, é um dos personagens listados na publicação anterior.
Depois disso vocês deverão conhecer seu objeto, ou seja, vão estudar a vida dele, detalhes, ações, ideias que defendeu, aliados políticos, posturas, virtudes, defeitos, etc.
Considerando o contexto da Revolução, vocês deverão fazer uma ACUSAÇÃO à este personagem, e basta lembrarmos das ações que eles tomaram durante o processo revolucionário que não faltarão motivos para acusá-los de diversas coisas, desde gasto exagerado de verba pública até atitudes radicais e desumanas. Ao acusar ou quem sabe defender este personagem, vocês estarão levantando uma HIPÓTESE, ou seja, ao acusar o Marat de incitar a violência, vocês estarão criando uma informação que precisara ser provada. E ai que vai entrar a parte da FUNDAMENTAÇÃO das acusações. Será necessário levantar informações que possam comprovar que seu personagem realmente faz jus ao que você acusa/defende. No caso do nosso exemplo, acusar Marat, algumas poucas frases dele incitando a população contra a aristocracia e o clero francês já bastariam para provar que ele realmente incitou a violência.
Na conclusão você descreverá os resultados obtidos pela sua pesquisa, em concordância com suas acusações e fundamentações. Nada de ficar escrevendo coisas como "eu fiz este trabalho e achei legal descobrir que o Marat era revolucionário"
O ideal neste estagio é fazer um texto curto, mostrando os resultados, as etapas da pesquisa, enfim. E obviamente, no final, suas referências bibliográficas.
Bem, espero que estas informações tenham sido úteis.
Abraços

terça-feira, 6 de março de 2012

Personagens da Revolução Francesa - para a elaboração do Dossiê

                Como eu havia prometido, vai abaixo uma lista de personalidades importantes no contexto da Revolução Francesa, para todos aqueles que na pesquisa solicitada se dispuseram a fazer o Dossiê.

Rei Luiz XVI

Rainha Maria Antonieta

Robespierre

Jean Paul Marat

Georges Jacques Danton

Jacques Hérbert

Honoré Gabriel Riqueti, conde de Mirabeau

Marquês de La Fayette

Napoleão Bonaparte

Giuseppe Guilhotin         

Jacques Louis David

Se eu fosse aluno e fosse fazer o dossiê, escolheria Robespierre ou Marat, mas a escolha é de vocês. Em tempo, no link abaixo tem uma postagem deste blog no qual coloquei o link que conduz ao blog do Professor Maurício Oyuama, amigo meu e que andou viajando pela França há dois anos atrás. O link em questão traz um texto muito bacana sobre o Palácio de Versalhes e várias fotos que ele fez por lá.
http://professor-andre-rockstar.blogspot.com/2011/02/o-palacio-de-versalhes.html
Desde já, um grande abraço para todos.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Pensando em educação.

Hoje à tarde, após uma conversa sobre futuros projetos de pesquisa para que eu possa, enfim, retornar à vida acadêmica, eu voltava para casa ouvindo o noticiário da CBN. Liguei o rádio quando a conversa acalorada sobre educação já estava em seu clímax. O entrevistado do programa falava sobre a decisão do Governador Geraldo Alckmin, do Estado de São Paulo, de fazer a terceira chamada em um concurso público para professores do Estado. O que mais deixou o comentador irritado foi o fato de que nesta chamada estavam sendo convocados professores que haviam reprovado no concurso público. E era a segunda chamada com este perfil. Durante a entrevista ele ainda falava que a previsão para 2013 é de uma defasagem de 300 mil educadores no país inteiro.

Outro tema interessante abordado foi o perfil das notas atingidas pelos alunos que querem ingressar na UFPR. Gostaria de ter os dados em mãos para dizer que são de fato fidedignos, mas ficarei devendo. O entrevistado afirmou que a nota de corte para o curso de medicina estava acima de 55 questões das 80 da primeira fase, enquanto que para alguns cursos de licenciatura, que visam formar os educadores, a mesma nota de corte caia para 15 questões.

O que é óbvio de se concluir disso (se isso for verdade), é que os piores alunos do ensino médio vão acabar virando professores. E basta entrar em algumas salas de professores das Escolas Públicas para perceber o quanto tem de "profissional" despreparado cuidando do futuro. Tem gente doente, tem gente de outras áreas, tem pedófilo, tem gente que avalia aluno por cópia de livro e resumo de filme. Um verdadeiro circo de horrores, falta diretriz curricular entre séries na mesma escola, do tipo um professor passando um determinado conteúdo para a sétima série da manhã e outro passando um conteúdo completamente diferente para a turma da tarde, no mesmo dia. Mas a culpa não é unicamente deles. Até as universidades que deveriam ser centros de excelência na formação de educadores não dão a mínima importância para este tema, muito menos aquelas que são verdadeiros consórcios de diplomas, que chegam a demitir um professor com doutorado por que ele custa caro demais para a instituição e por que exigiu que os alunos fizessem a leitura de um livro. (Sim, uma faculdade privada de Curitiba demitiu um amigo meu por que os alunos que seriam educadores no futuro fizeram um abaixo assinado por que ele pediu para lerem Sérgio Buarque de Holanda).

Se os dados que ouvi no rádio forem reais, a previsão para a educação das próximas gerações é no mínimo assustadora. Corremos o risco de ficarmos algumas décadas impedidos de crescer economicamente, materialmente, moralmente em função do descaso que o poder público tem para com a educação. Algum leitor meu consegue imaginar as razões que levaram a este problema?

Se não, vejamos algumas informações. Semana passada o MEC divulgou o valor para o piso salarial nacional dos professores. http://www1.folha.uol.com.br/saber/1054197-mec-divulga-piso-de-r-1451-para-professores-de-ensino-basico.shtml

Por uma carga semanal de 40 horas aula um professor deve receber o mínimo de R$ 1451 por mês. Basta olhar na tabela abaixo para saber o quanto o Estado do Paraná paga para o profissional da Educação Básica.
http://adjcomunicacao.files.wordpress.com/2011/12/tabelas-salariais-magisterio-pr583.jpg

Lecionei para um aluno no ensino público, um dos melhores que já tive e que tem a honrosa profissão de pedreiro. Trabalha por empreitada e sente-se feliz por que ganha aproximadamente R$ 3000 por mês. Ele não precisa preparar provas, aulas, não leva material para corrigir em casa. Não é ameaçado por alunos com alto grau de periculosidade, nem muito menos é coagido por diretores e pedagogos a passar ou reprovar alunos. Ai fica aquela pergunta: Estudar tanto para ganhar dois salários mínimos e levar trabalho para casa?

Enquanto não houver uma valorização real dos ganhos dos educadores, continuaremos ter que trabalhar doentes. Enquanto não houver um crescimento salarial, nossos melhores talentos irão procurar outras profissões que lhes ofereça ascensão social, distanciando-se daquilo que para nós professores é a atividade mais nobre que um ser humano pode executar: melhorar o próximo através do saber – a EDUCAÇÃO.

É óbvio que as forças conservadoras, que atrapalham o progresso da humanidade e aproveitam a Indústria da Ignorância que é o ensino público brasileiro para perpetuarem-se no poder sabe-se lá desde quando vão ficar afirmando coisas ridículas como "se não está satisfeito com o salário, arrume outra profissão".

Infelizmente, isso não é tão fácil assim. Por que diferente de muitas outras profissões, talvez sejam os professores aqueles que mais amam o que fazem. Eles se encantam quando percebem a maturidade que o jovem que eles acompanharam desde a mais tenra idade desabrocha como uma flor cheia de vida. Nós professores nos encantamos ao ver nos olhos de um jovem o nascimento da gana, da vontade de vencer, de ser melhor, de contribuir para com o sucesso da família no futuro. Nós choramos quando nos despedimos de nossos alunos que se formam, não por que o desejássemos por perto a vida toda, mas por que sabemos que plantamos neles sonhos que são difíceis de realizar, e que muitos até podem não conseguir, mas que, de alguma forma, nossas falas deram para eles um pouco de sentido na vida. Diferente de nossos políticos, nós professores sabemos que podemos fazer a diferença na vida das pessoas da sociedade. E acreditem, mesmo dentro das piores condições de trabalho, NÓS FAZEMOS A DIFERENÇA.

Diferente desta elite política que só sabe governar para atender os interesses de seus familiares, amigos, banqueiros, empreiteiros, entre outros.
Quisera eu que meu texto fosse divulgado massivamente, e que meu sonho de ver a educação sendo valorizada se realizasse. Vai ser duro viver a amargura de ser importante, mas ao mesmo tempo deixado de lado, até se aposentar.
Aliás, provavelmente também esquecido ao aposentar. Isso se eu chegar a me aposentar.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Código de Hamurabi

Daê garotada.
Primeiro post do ano letivo, depois dos pedidos de vocês em sala de aula, o link para o código de Hamurábi. Já que gostaram tanto assim do tema, ai vai o site
http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/hamurabi.htm
abraços

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

OPINIÃO - Lançamento do livro "A Privataria Tucana", de Amaury Ribeiro Jr. Em Curitiba.

              
              Eu não consigo nem por sonho ser da direita "clássica", mas a esquerda muitas vezes me irrita. Ontem durante o lançamento do Privataria Tucana em Curitiba dava para contar nos dedos quantos participantes entenderam a seguinte frase "façam perguntas objetivas". A maioria ficava militando em favor de suas próprias causas e de classe. Acredito que esta não era para ser a natureza do evento.

                Pois bem, continuemos. Amaury é um indignado e soube como ninguém tratar os documentos de que dispunha para mostrar que os interesses por trás da privatização não tinham nenhum suporte político e ideológico daquele tipo "o neoliberalismo vai salvar o Brasil". A campanha de desestatização fazia mais parte de um audacioso esquema imoral para promover o enriquecimento de famílias, partidos e corporações através do desmonte do Estado.
                Nos anos 1990, quando isto tudo aconteceu, poucas foram as ações da população que conseguiram parar este processo. Para nós aqui no Paraná, a mais emblemática campanha anti-privatização envolveu a COPEL, mas seria ingênuo demais acreditar que o quebra-quebra no centro cívico (diga-se de passagem, LINDO. Eu lembro disso, estava lá, mas olhando a distância com medo de levar bordoadas da polícia), foi o único responsável pela preservação da empresa pública. 




              A discussão sobre as privatizações ainda não acabaram e muita investigação ainda deve ser feita, mas o que me incomoda é que ela não sai de dentro de núcleos específicos da direita e da esquerda.
                A população em geral está cagando e andando para o tema. Ou por causa de um estupro ou por conta da Luíza, que está no Canadá. Em breve estarão pensando em outras coisas tão fúteis como estas.
                Amaury tenta inflar os ânimos das pessoas incentivando-as a entrar nesta discussão utilizando-se de uma forma clássica na literatura jornalística e política: a acusação. "Estes homens estão roubando de você". É uma maneira de trazer adeptos para a sua crítica às privatizações, mas eu não consigo mensurar a eficiência deste tipo de abordagem. 
                Se a idéia é discutir o tema da privatização, ainda se faz necessário esclarecer a população, sobretudo a mais jovem, a decidir por si só se querem ou não um Estado mais ou menos interventor. Explicar objetivamente o que representam estes modelos de Estados. Sou defensor de um maior intervencionismo estatal, mas não gosto da doutrinação. No exercício da minha profissão de educador, penso que o que é necessário ser feito é a emancipação intelectual dos jovens, para que possam decidir por si só o que acham mais correto como diretriz política. Inclusive, a partir da educação é possível inserir um princípio moral que DEVERIA nortear a prática política. O interesse da POPULAÇÃO, democraticamente representada TEM que estar acima dos interesses individuais ou corporativos. Se vamos privatizar aeroportos, que decidamos em plebiscitos.
                Tanto esquerda quanto direita precisavam, ironicamente, ser mais liberais. Eis a grande contradição. Seus conservadorismos políticos criados a partir de doutrinações corruptoras da liberdade de escolha são em essência, antidemocráticos. Os meios que os dois lados utilizam para tirar a legitimidade do seu antagonista são tão dogmáticos quanto acreditar que um pedaço de pão redondo é o corpo de Cristo. Só há debates entre os dois pólos, na hora que querem e apenas entre eles. Quem não quer se identificar com as cores vermelha ou azul-amarela acaba tendo sua voz sufocada pelos dois lados, que colocam suas ambições e projetos de poder acima da vontade (ou falta de vontade) da população. E quando núcleos dos dois grupos se reúnem o que temos é doutrinação anacrônica e panfletária.
                O lançamento do livro, a meu ver, seria mais útil se as questões fossem sobre a composição do livro, as repercussões, projetos futuros do escritor. Questões como estas apareceram, mas não foram o foco do evento. O autor havia deixado claro na web, semanas atrás, que estava disposto a fazer um livro mostrando as conexões entre a grande mídia e os partidos políticos ligados aos demo-tucanos, desmascarando os veículos de informação. Outra coisa que ele havia pronunciado noutro momento era tornar pública a guerra interna no PT, tema, aliás, que ficou extremamente distante do "debate" do lançamento do livro. Tudo isso poderia ser explorado melhor se não fossem os espíritos doutrinadores assumindo o controle dos microfones.
Eu, em destaque : )

                Se por um lado a presença massiva de uma militância no evento de "perguntas e respostas" me irrita, fico feliz por que ainda existem pessoas aguerridas e dispostas a brigar por um ideal. Se me perguntarem o que penso sobre privatizações pressupondo que sou contra, decepcionar-se-ão. Nem tudo precisa de fato ficar nas mãos do Estado. Mas é necessário sim que outros eventos como este ocorram e que todos tenham uma percepção de qual é o papel do Estado na contemporaneidade. Se ele deve ou não ser interventor. Além disso, as pessoas precisam se articular para cobrar das elites políticas posturas que tenham a ver com o voto e a mente do eleitor. Quanto mais tivermos pessoas convictas de seus ideais, mas dispostas a viver a política fora do ambiente da doutrinação dogmática, abrindo-se para a diversidade da vida política, melhores podem ser os processos que conduzem à criação de um modelo de direção para o Estado. E mais transparentes as coisas podem ficar. Por hora, ainda é necessário fazer uma limpeza e acabar com a corrupção que assola a vida política brasileira.
                E, finalizando, queria tanto enxergar no Amaury um Marat e no Protógenes um Robespierre, mas isso não é possível nem em sonho. Eu queria ter a coragem destes personagens históricos para pedir à população a cabeça de um Maluf, Collor, Sarney.
                Parafraseando as pessoas da mesa do evento de ontem: Para TODOS os COMPANHEIROS e TODAS as COMPANHEIRAS, um grande abraço.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

mídia e liberdade de expressão

Primeira postagem de 2012
Vale a pena ver este vídeo. Explicação simples e funcional sobre as comunicações no Brasil e as quadrilhas que comandam essa pocilga.

sábado, 31 de dezembro de 2011

Reflexões de fim de ano

2011
               Nunca fiquei tão chateado com as pessoas do meu país como neste ano. Aliás, minto, pois as eleições de 2010 também me fizeram ficar igualmente aborrecido. Há muitos anos um professor meu do DEHIS da UFPR disse uma frase que soava mais ou menos assim: "É uma falácia absurda dizer que o povo e a sociedade brasileira são pacíficos; que os brasileiros são marcadamente cordiais. É ridículo que ainda se negue a violência que existe e sempre existiu nas relações entre os grupos, etnias, religiões, tendências políticas. Este país é um dos mais violentos do mundo. Hoje e ontem".

                Eu me recordo que a discussão acabou indo para um caminho de analisar apenas a violência promovida pelo Estado brasileiro no século XX. E, não precisa ser muito esperto para perceber, para ver na história desta nação que muitas vezes as reivindicações dos extratos mais baixos da sociedade brasileira viraram assunto de polícia. Mas não é da violência do Estado que quero falar, e de certa forma, desabafar.

                Nos últimos anos, com destaque para 2011, vem se manifestando no país inteiro opiniões e argumentos ridiculamente construídos, contra pessoas, regiões, grupos políticos e religiões. Vamos pensar em alguns casos.


                Homofobia:
                Os brasileiros nasceram homofóbicos? Certamente que não. Esta manifestação absurda de preconceito está de certa forma relacionada ao nosso passado cristão, católico. Houve épocas em que a Igreja católica brasileira recriminava veementemente esta questão. O que é mais engraçado é que o homossexualismo feminino era "tolerado" por que não desperdiçava sêmen. A historiadora Mary Del Priore tem alguns bons textos sobre o tema da sexualidade no Brasil.
                Provavelmente por conta desse nosso passado cristão e também pela maioria absoluta da população brasileira seguir esta milenar religião, independente da igreja a qual freqüenta, desenvolvemos o pensamento de que o homossexualismo é um pecado e violenta os preceitos determinados por "Deus" em seu "Livro Sagrado". Lembremos que estamos no campo da análise histórica e não da religião.
                Para mim pouco importa se é pecado ou não. Eu simplesmente não conseguirei nunca identificar-me com uma religião que prega o perdão, o amor ao próximo em absoluto e defende a perseguição e discriminação de uma pessoa por conta da sua opção sexual. Religião e sexualidade não medem caráter. Se nós buscamos um valor moral em absoluto para nortear as ações humanas, não é na religião nem na sexualidade que encontraremos tal padrão. Nos últimos anos tenho assistido uma perseguição intensa e uma recriminação absurda contra esta parcela da população. E acredito que eles tenham sim o direito de se organizarem politicamente para conquistar seus direitos. Embora ainda tenha algumas ressalvas sobre os caminhos que se constroem para a legitimação dos seus direitos, é extremamente justo reivindicá-los.
                E antes de qualquer coisa, sou hétero. Minha preocupação maior hoje em dia é que este debate não está mais sendo realizado no palco da retórica, mas sim, nos ringues que as ruas se tornaram. Eis ai que cai por terra essa idéia de que somos um povo pacífico. Mas não terminou ainda.
                Religiosos VS. Ateus:
                Aqui se manifesta a ignorância mais arrogante de todas. Ambos os segmentos se consideram detentores de um conhecimento maior, superior e pleno que lhes atribui o direito de violentar e desrespeitar a crença (ou falta dela) por parte do outro grupo. Sou religioso, mas confesso que tenho mais facilidade de dialogar com ateus do que com cristãos pessimamente informados acerca da história da religião que professam.
                O que me entristece é o fato de que eu acredito piamente que união de forças para resolver problemas em comum não acontecem por conta deste orgulho mesquinho por parte destas duas forças que se digladiam. De que adianta ter ou não ter fé, se as intervenções necessárias para melhorar as condições de vida das pessoas não são feitas?
                Anos atrás eu soltava críticas ásperas às igrejas neopentecostais, enfatizava o absurdo das "indulgências" que muitas vendem e a ignorância preconceituosa que manifestam contra outras igrejas e formas de fé. Hoje em dia, minhas críticas são contra estas ações, que estão presentes em todas, mas não são mais dirigidas de forma generalizada às pessoas e às instituições. Ano após ano tomo conhecimento de ações tomadas por pessoas simples, sem vínculos com igrejas, apenas conectadas com uma idéia que muito me agrada: caridade.
                Muitos evangélicos e católicos se desprendem de suas funções diárias e doam parte do seu tempo para visitar doentes em estado terminal, penitenciárias, moradores de rua. Muitas escolas ligadas a igrejas ofertam educação de qualidade para quem não tem condições. Pode até alegar-se que eles estão dispostos a forçar uma conversão e eu não negaria esta questão, mas o fato é que, quem mais faz isso? O Estado brasileiro comandado pela elitezinha podre?
                Quanto aos ateus, são uma força intelectual crescente e que também se posicionam a partir de ações afirmativas. O problema é que a única coisa que eu vejo das "ONG's" dos ateus é que utilizam sua "brilhante superioridade intelectual" e o seu tempo livre para agir de forma muitas vezes fascista e desrespeitosa para com um dos fenômenos humanos mais relevantes, que é a religião. Qualquer pessoa que conhece o mínimo de história sabe que a sociedade burguesa ocidental contemporânea, que abriu as portas para o surgimento do ateísmo está associada às reformas religiosas que aconteceram no cristianismo lá no século XVI, no norte da Europa. Se não fossem protestantes religiosos que defenderam pela primeira vez na história do Cristianismo a liberdade de culto e expressão de fé, ideias que são pilares da democracia moderna, onde estariam os ateus? Talvez queimados.
                Se os ateus são tão humanistas quanto pregam, deveriam respeitar a religiosidade e/ou falta dela em qualquer ser humano, e não agredindo seus símbolos e valores. E falo mais, sairiam das redes sociais virtuais e partiriam para a ação social real, levando seu pragmatismo para aqueles que necessitam de alguma perspectiva na vida para sair da condição de miséria moral, intelectual e material que se encontram.
                Política:
                Isso é o que me deixa mais aborrecido e cansado e confesso que muitas vezes me faz perder a minha virtude de ser de fato um pacifista. Tem horas que se manifesta em mim ideias dignas de um Jean Paul Marat: cabeças deveriam ser cortadas.
                Mas vamos aos fatos. O que mais observei neste ano na política brasileira nem foi aquilo que mais me chama a atenção, que são os assuntos econômicos. Parafraseando Lula, nunca antes na história deste país vi tantas denúncias de corrupção. A impressão que me passa é que a corrupção foi inventada agora. Onde estava a grande imprensa delatora nos anos de 1990-2002?
                Sujeira das mais baixas. O que a oposição e a imprensa ligada a ela fazem é hediondo. Denunciar apenas agora é o suficiente para eu entender que a corrupção existente anteriormente acontecia com a conivência dos meios de comunicação associados ao PSDB e (PFL) DEM. E nesta história toda, palmas para Dilma.
                Primeiro por que não se conseguiu levantar nada contra ela. Não vou ser maluco de dizer que ela não fez nada de errado na vida política, mas nenhuma acusação contra ela aconteceu e creio que vai ser difícil que aconteça. Segundo por que ela não pensou duas vezes nas situações em que teve que forçar a renúncia ou até mesmo mandar embora secretários e ministros. Será que Serra, FHC, Maluf, Magalhães da vida fariam o mesmo?
                Do outro lado, o PT que durante anos me fez crer que era possível ter esperança na política esfriou muito meu idealismo quando notei que muita gente da cúpula do partido estava e está mais suja que pau de galinheiro. O mensalão ainda não me desce, bem como o "não sei de nada" do Lula.
                Mas, vamos ao que mais me irrita. Os demo-tucanos não estão denunciando corrupção por que se opõem a ela. Daqui da minha cadeira no quarto eu observo que quando eles saíram do poder, perderam a galinha dos ovos de ouro. O Estado, que até então era cliente especial das empresas dos amigos e familiares desta corja podre da política brasileira, esteve desde 2002 nas mãos do "inimigo". Quem vai na onda da Veja, da Folha, acreditando que se trata de uma luta por moralizar a política brasileira está ridiculamente equivocado.
                E quem é que mais perde enquanto estas elites políticas vinculadas ao poder econômico se digladiam na arena da política? Nós todos que ainda temos um dos mais baixos IDH do mundo, temos milhões na pobreza, na violência urbana, na prostituição infantil, na educação de baixa qualidade, na dependência tecnológica dos grandes países, na péssima distribuição de renda, na péssima saúde, na ridícula mobilidade urbana, na escandalosa e cruel violência contra o meio ambiente.
                A violência que estas elites políticas podres do nosso país praticam entre si, acaba virando saraivadas de balas perdidas em 190 milhões de brasileiros.
                E você que leu este texto, ainda acredita que somos um país com povo pacífico?

                Feliz ano novo.
OBS: No próximo post pretendo falar sobre a intolerância regional.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

O Fim do Mundo

Tá ai um tema que eu adoro estudar, as diferentes interpretações acerca do possível fim do mundo. Tão logo eu tenha tempo, vou compartilhar aqui com os alunos algumas observações acerca do tema. Por hora, só passei para divulgar uma notícia bem legal do caderno de ciência da Folha de São Paulo, umas das poucas coisas legais daquele jornaleco
http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/999375-fim-do-mundo-maia-e-um-erro-de-interpretacao-diz-arqueologo.shtml
Abraços
Prof. André