2011
Nunca fiquei tão chateado com as pessoas do meu país como neste ano. Aliás, minto, pois as eleições de 2010 também me fizeram ficar igualmente aborrecido. Há muitos anos um professor meu do DEHIS da UFPR disse uma frase que soava mais ou menos assim: "É uma falácia absurda dizer que o povo e a sociedade brasileira são pacíficos; que os brasileiros são marcadamente cordiais. É ridículo que ainda se negue a violência que existe e sempre existiu nas relações entre os grupos, etnias, religiões, tendências políticas. Este país é um dos mais violentos do mundo. Hoje e ontem".
Eu me recordo que a discussão acabou indo para um caminho de analisar apenas a violência promovida pelo Estado brasileiro no século XX. E, não precisa ser muito esperto para perceber, para ver na história desta nação que muitas vezes as reivindicações dos extratos mais baixos da sociedade brasileira viraram assunto de polícia. Mas não é da violência do Estado que quero falar, e de certa forma, desabafar.
Nos últimos anos, com destaque para 2011, vem se manifestando no país inteiro opiniões e argumentos ridiculamente construídos, contra pessoas, regiões, grupos políticos e religiões. Vamos pensar em alguns casos.
Homofobia:
Os brasileiros nasceram homofóbicos? Certamente que não. Esta manifestação absurda de preconceito está de certa forma relacionada ao nosso passado cristão, católico. Houve épocas em que a Igreja católica brasileira recriminava veementemente esta questão. O que é mais engraçado é que o homossexualismo feminino era "tolerado" por que não desperdiçava sêmen. A historiadora Mary Del Priore tem alguns bons textos sobre o tema da sexualidade no Brasil.
Provavelmente por conta desse nosso passado cristão e também pela maioria absoluta da população brasileira seguir esta milenar religião, independente da igreja a qual freqüenta, desenvolvemos o pensamento de que o homossexualismo é um pecado e violenta os preceitos determinados por "Deus" em seu "Livro Sagrado". Lembremos que estamos no campo da análise histórica e não da religião.
Para mim pouco importa se é pecado ou não. Eu simplesmente não conseguirei nunca identificar-me com uma religião que prega o perdão, o amor ao próximo em absoluto e defende a perseguição e discriminação de uma pessoa por conta da sua opção sexual. Religião e sexualidade não medem caráter. Se nós buscamos um valor moral em absoluto para nortear as ações humanas, não é na religião nem na sexualidade que encontraremos tal padrão. Nos últimos anos tenho assistido uma perseguição intensa e uma recriminação absurda contra esta parcela da população. E acredito que eles tenham sim o direito de se organizarem politicamente para conquistar seus direitos. Embora ainda tenha algumas ressalvas sobre os caminhos que se constroem para a legitimação dos seus direitos, é extremamente justo reivindicá-los.
E antes de qualquer coisa, sou hétero. Minha preocupação maior hoje em dia é que este debate não está mais sendo realizado no palco da retórica, mas sim, nos ringues que as ruas se tornaram. Eis ai que cai por terra essa idéia de que somos um povo pacífico. Mas não terminou ainda.
Religiosos VS. Ateus:
Aqui se manifesta a ignorância mais arrogante de todas. Ambos os segmentos se consideram detentores de um conhecimento maior, superior e pleno que lhes atribui o direito de violentar e desrespeitar a crença (ou falta dela) por parte do outro grupo. Sou religioso, mas confesso que tenho mais facilidade de dialogar com ateus do que com cristãos pessimamente informados acerca da história da religião que professam.
O que me entristece é o fato de que eu acredito piamente que união de forças para resolver problemas em comum não acontecem por conta deste orgulho mesquinho por parte destas duas forças que se digladiam. De que adianta ter ou não ter fé, se as intervenções necessárias para melhorar as condições de vida das pessoas não são feitas?
Anos atrás eu soltava críticas ásperas às igrejas neopentecostais, enfatizava o absurdo das "indulgências" que muitas vendem e a ignorância preconceituosa que manifestam contra outras igrejas e formas de fé. Hoje em dia, minhas críticas são contra estas ações, que estão presentes em todas, mas não são mais dirigidas de forma generalizada às pessoas e às instituições. Ano após ano tomo conhecimento de ações tomadas por pessoas simples, sem vínculos com igrejas, apenas conectadas com uma idéia que muito me agrada: caridade.
Muitos evangélicos e católicos se desprendem de suas funções diárias e doam parte do seu tempo para visitar doentes em estado terminal, penitenciárias, moradores de rua. Muitas escolas ligadas a igrejas ofertam educação de qualidade para quem não tem condições. Pode até alegar-se que eles estão dispostos a forçar uma conversão e eu não negaria esta questão, mas o fato é que, quem mais faz isso? O Estado brasileiro comandado pela elitezinha podre?
Quanto aos ateus, são uma força intelectual crescente e que também se posicionam a partir de ações afirmativas. O problema é que a única coisa que eu vejo das "ONG's" dos ateus é que utilizam sua "brilhante superioridade intelectual" e o seu tempo livre para agir de forma muitas vezes fascista e desrespeitosa para com um dos fenômenos humanos mais relevantes, que é a religião. Qualquer pessoa que conhece o mínimo de história sabe que a sociedade burguesa ocidental contemporânea, que abriu as portas para o surgimento do ateísmo está associada às reformas religiosas que aconteceram no cristianismo lá no século XVI, no norte da Europa. Se não fossem protestantes religiosos que defenderam pela primeira vez na história do Cristianismo a liberdade de culto e expressão de fé, ideias que são pilares da democracia moderna, onde estariam os ateus? Talvez queimados.
Se os ateus são tão humanistas quanto pregam, deveriam respeitar a religiosidade e/ou falta dela em qualquer ser humano, e não agredindo seus símbolos e valores. E falo mais, sairiam das redes sociais virtuais e partiriam para a ação social real, levando seu pragmatismo para aqueles que necessitam de alguma perspectiva na vida para sair da condição de miséria moral, intelectual e material que se encontram.
Política:
Isso é o que me deixa mais aborrecido e cansado e confesso que muitas vezes me faz perder a minha virtude de ser de fato um pacifista. Tem horas que se manifesta em mim ideias dignas de um Jean Paul Marat: cabeças deveriam ser cortadas.
Mas vamos aos fatos. O que mais observei neste ano na política brasileira nem foi aquilo que mais me chama a atenção, que são os assuntos econômicos. Parafraseando Lula, nunca antes na história deste país vi tantas denúncias de corrupção. A impressão que me passa é que a corrupção foi inventada agora. Onde estava a grande imprensa delatora nos anos de 1990-2002?
Sujeira das mais baixas. O que a oposição e a imprensa ligada a ela fazem é hediondo. Denunciar apenas agora é o suficiente para eu entender que a corrupção existente anteriormente acontecia com a conivência dos meios de comunicação associados ao PSDB e (PFL) DEM. E nesta história toda, palmas para Dilma.
Primeiro por que não se conseguiu levantar nada contra ela. Não vou ser maluco de dizer que ela não fez nada de errado na vida política, mas nenhuma acusação contra ela aconteceu e creio que vai ser difícil que aconteça. Segundo por que ela não pensou duas vezes nas situações em que teve que forçar a renúncia ou até mesmo mandar embora secretários e ministros. Será que Serra, FHC, Maluf, Magalhães da vida fariam o mesmo?
Do outro lado, o PT que durante anos me fez crer que era possível ter esperança na política esfriou muito meu idealismo quando notei que muita gente da cúpula do partido estava e está mais suja que pau de galinheiro. O mensalão ainda não me desce, bem como o "não sei de nada" do Lula.
Mas, vamos ao que mais me irrita. Os demo-tucanos não estão denunciando corrupção por que se opõem a ela. Daqui da minha cadeira no quarto eu observo que quando eles saíram do poder, perderam a galinha dos ovos de ouro. O Estado, que até então era cliente especial das empresas dos amigos e familiares desta corja podre da política brasileira, esteve desde 2002 nas mãos do "inimigo". Quem vai na onda da Veja, da Folha, acreditando que se trata de uma luta por moralizar a política brasileira está ridiculamente equivocado.
E quem é que mais perde enquanto estas elites políticas vinculadas ao poder econômico se digladiam na arena da política? Nós todos que ainda temos um dos mais baixos IDH do mundo, temos milhões na pobreza, na violência urbana, na prostituição infantil, na educação de baixa qualidade, na dependência tecnológica dos grandes países, na péssima distribuição de renda, na péssima saúde, na ridícula mobilidade urbana, na escandalosa e cruel violência contra o meio ambiente.
A violência que estas elites políticas podres do nosso país praticam entre si, acaba virando saraivadas de balas perdidas em 190 milhões de brasileiros.
E você que leu este texto, ainda acredita que somos um país com povo pacífico?
Feliz ano novo.
OBS: No próximo post pretendo falar sobre a intolerância regional.
OBS: No próximo post pretendo falar sobre a intolerância regional.
Acredito que o tal povo "pacífico" existe sim. Onde ele está, ai é um problema...
ResponderExcluirTalvez seja pelo medo de enfrentar elites, governos,ou até mesmo a força de vontade de mudar, que cada vez mais esse povo está desaparecendo!
Em questão a política é o fato que mais me aborrece! Pois até os maconheiros organizam passeatas a favor da legalização da própria, e quando é para reivindicarmos um direito nosso, contra corrupção ou melhorias eu não intendo pq é tão difícil!!!
O que eu peço para o povo brasileiro, que em 2012 vamos em busca de um país melhor! Vamos correr atrás de nossos direitos!!!
O mundo muda se nós mudarmos!!! Pensem nisso....
FELIZ ANO NOVO PARA TODOS!!!