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segunda-feira, 5 de março de 2012

Pensando em educação.

Hoje à tarde, após uma conversa sobre futuros projetos de pesquisa para que eu possa, enfim, retornar à vida acadêmica, eu voltava para casa ouvindo o noticiário da CBN. Liguei o rádio quando a conversa acalorada sobre educação já estava em seu clímax. O entrevistado do programa falava sobre a decisão do Governador Geraldo Alckmin, do Estado de São Paulo, de fazer a terceira chamada em um concurso público para professores do Estado. O que mais deixou o comentador irritado foi o fato de que nesta chamada estavam sendo convocados professores que haviam reprovado no concurso público. E era a segunda chamada com este perfil. Durante a entrevista ele ainda falava que a previsão para 2013 é de uma defasagem de 300 mil educadores no país inteiro.

Outro tema interessante abordado foi o perfil das notas atingidas pelos alunos que querem ingressar na UFPR. Gostaria de ter os dados em mãos para dizer que são de fato fidedignos, mas ficarei devendo. O entrevistado afirmou que a nota de corte para o curso de medicina estava acima de 55 questões das 80 da primeira fase, enquanto que para alguns cursos de licenciatura, que visam formar os educadores, a mesma nota de corte caia para 15 questões.

O que é óbvio de se concluir disso (se isso for verdade), é que os piores alunos do ensino médio vão acabar virando professores. E basta entrar em algumas salas de professores das Escolas Públicas para perceber o quanto tem de "profissional" despreparado cuidando do futuro. Tem gente doente, tem gente de outras áreas, tem pedófilo, tem gente que avalia aluno por cópia de livro e resumo de filme. Um verdadeiro circo de horrores, falta diretriz curricular entre séries na mesma escola, do tipo um professor passando um determinado conteúdo para a sétima série da manhã e outro passando um conteúdo completamente diferente para a turma da tarde, no mesmo dia. Mas a culpa não é unicamente deles. Até as universidades que deveriam ser centros de excelência na formação de educadores não dão a mínima importância para este tema, muito menos aquelas que são verdadeiros consórcios de diplomas, que chegam a demitir um professor com doutorado por que ele custa caro demais para a instituição e por que exigiu que os alunos fizessem a leitura de um livro. (Sim, uma faculdade privada de Curitiba demitiu um amigo meu por que os alunos que seriam educadores no futuro fizeram um abaixo assinado por que ele pediu para lerem Sérgio Buarque de Holanda).

Se os dados que ouvi no rádio forem reais, a previsão para a educação das próximas gerações é no mínimo assustadora. Corremos o risco de ficarmos algumas décadas impedidos de crescer economicamente, materialmente, moralmente em função do descaso que o poder público tem para com a educação. Algum leitor meu consegue imaginar as razões que levaram a este problema?

Se não, vejamos algumas informações. Semana passada o MEC divulgou o valor para o piso salarial nacional dos professores. http://www1.folha.uol.com.br/saber/1054197-mec-divulga-piso-de-r-1451-para-professores-de-ensino-basico.shtml

Por uma carga semanal de 40 horas aula um professor deve receber o mínimo de R$ 1451 por mês. Basta olhar na tabela abaixo para saber o quanto o Estado do Paraná paga para o profissional da Educação Básica.
http://adjcomunicacao.files.wordpress.com/2011/12/tabelas-salariais-magisterio-pr583.jpg

Lecionei para um aluno no ensino público, um dos melhores que já tive e que tem a honrosa profissão de pedreiro. Trabalha por empreitada e sente-se feliz por que ganha aproximadamente R$ 3000 por mês. Ele não precisa preparar provas, aulas, não leva material para corrigir em casa. Não é ameaçado por alunos com alto grau de periculosidade, nem muito menos é coagido por diretores e pedagogos a passar ou reprovar alunos. Ai fica aquela pergunta: Estudar tanto para ganhar dois salários mínimos e levar trabalho para casa?

Enquanto não houver uma valorização real dos ganhos dos educadores, continuaremos ter que trabalhar doentes. Enquanto não houver um crescimento salarial, nossos melhores talentos irão procurar outras profissões que lhes ofereça ascensão social, distanciando-se daquilo que para nós professores é a atividade mais nobre que um ser humano pode executar: melhorar o próximo através do saber – a EDUCAÇÃO.

É óbvio que as forças conservadoras, que atrapalham o progresso da humanidade e aproveitam a Indústria da Ignorância que é o ensino público brasileiro para perpetuarem-se no poder sabe-se lá desde quando vão ficar afirmando coisas ridículas como "se não está satisfeito com o salário, arrume outra profissão".

Infelizmente, isso não é tão fácil assim. Por que diferente de muitas outras profissões, talvez sejam os professores aqueles que mais amam o que fazem. Eles se encantam quando percebem a maturidade que o jovem que eles acompanharam desde a mais tenra idade desabrocha como uma flor cheia de vida. Nós professores nos encantamos ao ver nos olhos de um jovem o nascimento da gana, da vontade de vencer, de ser melhor, de contribuir para com o sucesso da família no futuro. Nós choramos quando nos despedimos de nossos alunos que se formam, não por que o desejássemos por perto a vida toda, mas por que sabemos que plantamos neles sonhos que são difíceis de realizar, e que muitos até podem não conseguir, mas que, de alguma forma, nossas falas deram para eles um pouco de sentido na vida. Diferente de nossos políticos, nós professores sabemos que podemos fazer a diferença na vida das pessoas da sociedade. E acreditem, mesmo dentro das piores condições de trabalho, NÓS FAZEMOS A DIFERENÇA.

Diferente desta elite política que só sabe governar para atender os interesses de seus familiares, amigos, banqueiros, empreiteiros, entre outros.
Quisera eu que meu texto fosse divulgado massivamente, e que meu sonho de ver a educação sendo valorizada se realizasse. Vai ser duro viver a amargura de ser importante, mas ao mesmo tempo deixado de lado, até se aposentar.
Aliás, provavelmente também esquecido ao aposentar. Isso se eu chegar a me aposentar.

Um comentário:

  1. Adoro seus artigos de opinião Professor, é escrito de forma que apura o senso crítico, todos conseguem refletir, e identificar a mensagem passada. Estarei sempre olhando suas postagens!

    Abraço,

    Suelen R.Mello, (aluna do ano passado)

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