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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

No coração do professor, o sangue militante. Na mente uma única causa: EDUCAÇÃO

Tenho escrito metodicamente sobre aquilo que acho problemático no atual contexto, mas hoje vou ser um pouco egoísta. Vou falar de mim. Muita gente sabe que meus pais são aquilo que se definem como analfabetos funcionais e que batalharam muito para me manter na escola pública. O que pouca gente não sabe é que quando fui aluno do curso de história da UFPR, por diversas vezes eu senti um menosprezo por parte de vários colegas quando eu dizia que pretendia educar no sistema público. 

Minha carreira é extremamente bem sucedida e digo isso com enorme alegria. Sou concursado no Estado e trabalho numa rede de educação privada que, para mim, é a melhor do Estado. Nesta rede trabalho em uma unidade que faz um projeto social, dando centenas de bolsas de estudo para alunos de baixa renda. Fazemos lá uma revolução social e moral silenciosa. 

Nos diferentes sistemas de educação em que trabalho, faço meu dever profissional com uma dedicação absurda, com um amor praticamente absoluto, independente do que o "sectário" de educação entenda sobre estas duas virtudes. Mas quando vou ao mercado comprar carne, eu não ganho desconto por trabalhar por amor. Se o Estado me deve, tem de me pagar. Se deve ao meu colega funcionário ou professor PSS, ele tem de pagar. A dor deles é a minha também. Eu não sou de citar textos religiosos, mas há pessoas que valorizam as escrituras cristãs. O direito de receber é bíblico. Lembram da parábola do proprietário da vinha que contrata pessoas por um denário por dia? (Mateus 20. 1-15)

O maior resultado da minha carreira docente vem justamente do amor que dedico para ela. Ano após ano, sofrimento após sofrimento, meus alunos chegam e perguntam: "mas por que quis ser professor, mesmo com salários baixos e tantos problemas?". A resposta é a mesma: Não foi uma questão de querer ter a profissão. Esclarecer e melhorar os que estão ao nosso redor é talvez a tarefa moral mais difícil, mas nada como ver alguém fazendo bom uso do seu livre-arbítrio em função das nossas orientações.

Uma vez, escrevi um bilhete para uma moça que hoje é ex aluna e será professora um dia. Ela me pediu um "bilhetinho de despedida". Talvez, se ela ler, lembrará do texto melhor do que eu, pois recordo que ela ficou emocionada. Dizia algo mais ou menos assim: Um dos maiores prazeres na vida é ter uma boa conversa com alguém que se gosta, se respeita. Melhor ainda é saber que a pessoa conversa bem contigo, de forma livre e independente, muitas vezes te ensinando e esclarecendo justamente por que num momento anterior você estimulou-a a evoluir e atingir este estágio. Esclarecer para conversar melhor, para sentirmo-nos melhores.

Esta garota será professora. Mas não só ela. Nestes anos todos, o maior resultado do amor que dedico à educação está no fato de que uma parcela expressiva dos meus alunos desejam ser educadores. Alguns já são, outros se tornarão em breve. O maior legado da minha vida para o mundo será pelo menos, umas quatro, talvez cinco gerações de educadores. Tem aqueles que estão seguindo o rumo da história, da filosofia, da sociologia, geografia, matemática, física, química. Tenho também os que serão médicos, advogados, engenheiros, enfim, mas no dia a dia deles, sempre que for preciso, eles esclarecerão os que estão ao redor.

Este "sectário" da educação não entende que o que nós fazemos já é por amor. E não dá para amar mais por uma razão simples: o amor à educação é absoluto em si mesmo. Só quem o tem sabe disso. Se o "sectário" não sabe, é por que ELE NÃO TEM TAL AMOR, logo, não tem moral para exigir isso de nós, que estamos há 10, 15, 20, 25 anos no magistério.

Amigos, alunos, ex alunos. Sabemos o que estamos fazendo. Queremos uma educação melhor. Alunos e ex alunos. Um dia nós não estaremos mais aqui nesta terra injusta e desleal. Se hoje fomos às ruas, fomos brigar por nossos direitos, é por que sabemos que vocês que escolheram a educação como causa precisarão ter no futuro condições melhores do que esta na qual nos encontramos. Nosso primeiro legado é o amor pelo educar. Entendam outra coisa: o segundo legado é lutar pelo direito de manter este amor.


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