Pesquisar este blog

quinta-feira, 3 de março de 2011

Por que tanta atenção aos gregos?

            Recentemente eu li uma coleção de livros sobre história da ciência, os quais eu não consigo me recordar agora da referência, mas tão logo eu faça uma reorganização nos meus textos, deixarei esta informação. Uma das partes que mais me chamou a atenção foi a que se dirigia a tentar entender a formação de uma ciência na Antiga China. Do pouco que me lembro, havia um trecho que afirmava que a relação do homem chinês com o universo era uma relação que inseria em si a busca de um conhecimento sobre como este universo funcionava para que o homem pudesse viver de forma harmônica com ele, inserida nele. Recordo-me também da leitura de uma metáfora que afirmava a idéia de o universo como um cão e o ser humano como pulgas. Se as pulgas sugassem demais o cão, ele se coçaria, podendo atingi-las.
            Esta metáfora reforça a ideia de que o universo na visão do homem chinês não era para ser dominado, mas sim, haver uma interação equilibrada entre o homem, parte menor deste universo, e este “cosmos” do qual ele faz parte.
            A partir desta perspectiva, a busca pelo entendimento deste universo dar-se-ia no sentido de que entendê-lo tinha um propósito básico, que era estabelecer uma forma racional de se relacionar com ele, que não afetasse a existência do homem. Na perspectiva que o livro em questão me apresentou, os chineses antigos não buscavam controlar a natureza, e sim entendê-la, interpretá-la para se relacionar harmonicamente.
            Como podemos perceber, a tradição científica ocidental é completamente diferente da perspectiva dos chineses. Nossa ciência busca controlar as leis naturais e manipulá-las de forma a favorecer as necessidades humanas. Num exemplo bem simples, buscar entender o funcionamento da lei da gravitação universal não foi algo feito para que evitássemos as quedas. Entendendo como funcionam as quedas, pudemos ao longo do tempo desenvolver técnicas e saberes científicos que nos permitiram controlar o vôo. Com a energia certa, direcionada para uma ação certa, pudemos vencer a gravitação de forma que até de dentro do planeta já é possível sair.
            A antiga china é milenar, mas não possui relação direta com a formação da nossa ciência moderna. Se formos buscar no passado as origens da nossa ciência, fatalmente encontraremos esta origem nos antigos gregos. É correto afirmar que saberes que hoje julgamos serem técnicos e científicos existiram bem antes deles. Mesopotâmicos e egípcios criaram saberes para realizarem tarefas cotidianas e acabaram atingindo um grau de excelência ímpar na antiguidade. Mas ainda assim, certos conhecimentos destas civilizações possuíam relação intima e intrincada com as expressões religiosas típicas delas. Foram os gregos os primeiros a buscar uma sistematização dos saberem técnicos e científicos sem relacioná-los com o universo do mythos, procurando um sentindo racional (logos) nos fenômenos naturais.
            Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Pitágoras, entre outros pensadores pré-socráticos buscavam o entendimento acerca da natureza sem utilizar-se de recursos mitológicos ou atribuições divinas. Tales chegou a afirmar que terremotos aconteciam por causa de grandes ondas marítimas, uma vez que para ele a terra estava boiando no mar, ao invés da explicação mitológica que atribuía ao Deus Poseidon a origem para o fenômeno sísmico.
Tales de Mileto
            Por mais que a explicação de Tales esteja incorreta para os parâmetros científicos dos nossos dias, há nela uma separação evidente do universo mitológico. Mas não é apenas nisso que a construção da ciência grega se assemelha com a ciência contemporânea. Era comum que um determinado fenômeno fosse explicado dentro de diferentes perspectivas por cada um destes primeiros cientistas. A existência das diferentes explicações incitava a um debate, para buscar qual delas se aproximava mais da verdade.
Acrópole de Atenas - Principal polis da Grécia Clássica, berço da democracia grega
            Este embate de teorias e idéias só foi possível na Grécia em função do caráter político e social presente nas polis gregas, nas quais haviam espaços públicos destinados aos debates e assembléias que definiriam o rumo a ser seguido pelas polis. A busca por um caminho mais racional a ser seguido na administração das polis incluía também a busca por uma certeza científica que só poderia ser atingida com o uso do logos (raciocínio lógico) e um afastamento total do mythos (raciocínio mitológico/religioso).
            Durante a Idade Média a ciência grega passou por um período de ostracismo no ocidente, mas o que foi possível preservar foi salvo pelos árabes. No século XV tomou força a Filosofia Humanista, que entre vários aspectos, também buscou resgatar a forma como os gregos relacionavam-se com o cosmos e o entendimento que os gregos tinham do universo.

A Escola de Atenas - Raffael (pintura renascentista)

            No século XVI o filósofo francês René Descartes propunha no seu texto O discurso do Método uma forma racional de explicar o universo, amparada na matemática. No século seguinte Isaac Newton criava as primeiras leis da física moderna, afastando definitivamente a explicação dos fenômenos da perspectiva teocêntrica e religiosa medieval.

René Descartes

Sir Isaac Newton
          Além disso, Newton dava os primeiros passos para o surgimento da ciência moderna, que se caracteriza basicamente pelos seguintes aspectos: 1) Observação sistemática da natureza; 2) Buscar padrões nos fenômenos e racionalizá-los, buscando interpretá-los no sentido de formular leis naturais válidas universalmente; 3) Repetir as experiências para formular regras válidas, não se baseando apenas em um único acontecimento isolado.
            Nascia assim a ciência moderna, com ela um novo conjunto de saberes foi possível de ser formado. Há quem diga hoje que existe uma crise na ciência e nos seus paradigmas, mas isto é outra história, para outro momento.
            Há outras razões para afirmar a importância dos gregos para nossa época. Questões políticas, questões de gênero e sexualidade, questões culturais, questões filosóficas, questões estéticas. Todas elas são legítimas e por si só valem uma vida de pesquisas científicas em torno da história dos gregos. Neste pequeno texto eu quis externar minha relação de apreciação com a história da ciência, sobretudo da ciência grega.
            Se vocês tiverem interesse em dar uma olhada no desenvolvimento científico dos gregos, sugiro acessar o link ao lado: http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/cienciagrega.htm .
            Para todos os alunos, dos primeiros anos de todas as escolas que leciono e especificamente para os do terceiro ano do SESC- São José, clicando neste link http://www.4shared.com/file/iuP8V8ge/Antiguidade_Clssica_-_Grcia.html você estará  fazendo o download dos slides que utilizamos na sala de aula, para dar conta dos conteúdos dos livros didáticos e apostila.
            Para todos, um grande abraço.

Nenhum comentário:

Postar um comentário