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sexta-feira, 11 de março de 2011

Deus, Razão, terremoto e tsunami - Parte 02

1 – Marquês de Pombal: Iluminismo e as desavenças com o Clero.

Marquês de Pombal

            Marquês de Pombal é uma das figuras mais controversas da história portuguesa. Para muitos é tido com um reformador das estruturas políticas, pondo em práticas medidas próximas ao que defendiam os pensadores iluministas. Buscava um pragmatismo racional nas ações do Estado. Para outros é tido como um violento déspota, que utilizava o poder para perseguir seus opositores, inspirando o terror nos  seus adversários políticos. É por isso que ele é costumeiramente conhecido como um déspota esclarecido, nomenclatura usada normalmente para referir-se às formas de governo que existiram na Europa durante o século XVIII que mesclavam idéias iluministas com posições absolutistas.
            Pombal centralizou muitos poderes em suas mãos, o que de certa forma irritou muitos dos outros membros da nobreza portuguesa. Suas políticas assentadas na filosofia iluminista também não eram bem vistas pelo Clero. Se o terremoto de 1755 provocou alterações na vida política portuguesa, estas podem ser sentidas na ascensão de Pombal.
            Até a data do terremoto ele estava na posição de Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra. Passado o evento catástrofico, coube a Pombal liderar os esforços de reconstrução de Lisboa. Sua eficiência na resolução do problema alavancou sua carreira política, permitindo que este passasse anos depois para a função de Primeiro-ministro, sendo-lhe outorgado poderes que nenhum outro político desta posição tivera até então em Portugal.
            Adepto do Iluminsmo, Pombal passou a estimular o desenvolvimento de manufaturas. Impôs à nobreza portuguesa que esta passasse a respeitar as leis do Estado Português como qualquer cidadão, tirando-lhes privilégios. Criou companhias comerciais para que estas não sucumbissem diante da concorrência estrangeira, criando também monopólios estatais que prejudicaram produtores portugueses.
Com relação ao terremoto, Pombal pediu que estudiosos fossem à campo investigar, tentando encontrar informações acerca dos dias anteriores ao terremoto e ao tsunami, na busca de uma explicação com aspecto mais científico do evento sísmico. Muitos sismólogos afirmam que com Pombal começou uma era de estudos de atividades sísmicas que buscava entendê-las numa perspectiva metódica, tentando encontrar padrões para auxiliar na previsão de novos abalos.
            Em 1758 houve uma tentativa de assassinato do rei D. José I. Pombal perseguiu as famílias nobres implicadas no atentado, julgando-as e condenando-as. A Família de Távora, ligada a tentativa de regicídio possuia estreitas relações com a Companhia de Jesus (jesuítas). Anos após o terremoto o padre jesuita Gabriel Malagrida passaria a fazer pregações acerca da tragédia de Lisboa.
Pe. Gabriel Malagrida
            Para Pe. Malagrida, o terremoto era consequência de uma ação punitiva de Deus, que estaria insatisfeito com as mudanças dos costumes da população de Lisboa. Malagrida defendia uma reformulação destes costumes centrada numa submissão maior às regras divinas e da Igreja Católica. Nada anormal de se esperar de um padre católico do século XVIII. O problema é que seus panfletos em tons proféticos estavam endereçados ao todo poderoso Primeiro Ministro português, que meses antes havia mandado publicar panfletos sobre o terremoto, mostrando à população lisboeta explicações na forma científica que era possível na época, as razões e a origem do tremor.
            Pombal expulsou Malagrida de Lisboa, indo este morar em Setúbal, próximo da Família Távora, associada a tentativa de assassinato do Rei. Malagrida e os Távora tinham um inimigo comum. Não tardou para que Pombal os acusasse de conspiração contra o Rei, crime que em Portugal do século XVIII era punível com a morte.
            Ironicamente, Pombal, o estadista esclarecido pelas ideias iluministas, acusou Malagrida de falso profeta e herege, logo, inimigo da Igreja Católica. Suas acusações foram levadas ao Tribunal do Santo Ofício português (inquisição). Malagrida morreu em um auto-de-fé, queimado em uma fogueira, em praça pública.
Representação de um auto de fé
            Com o apoio do Rei, que considerava a Companhia de Jesus um poder externo atuando dentro do Estado Português, Pombal fez uma autêntica reforma religiosa, expulsando os jesuítas de todo o Império Português. Até então, a educação das elites estava nas mãos dos jesuítas, com Pombal ela passa a ser assunto de Estado. Pombal punha em prática uma política anti-clerical, algo que é costumeiramente associado ao Iluminismo, mas em contrapartida, proíbe a leitura dos autores iluministas franceses nas escolas e universidades portuguesas, por achar estes autores corruptores da religião e da moral.
            Com a morte do Rei em 1777, chegava também ao fim a presença de Pombal. A nova rainha, D. Maria I reitrou-lhe do cargo. Pombal morria em 1782, marcando profundamente a vida política portuguesa e seus desdobramentos coloniais.

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