Eu sinto que estou na metade da minha vida (não é drama). Olho para frente e para trás. Sinto-me perdido, tudo parece distante. A memória de dias felizes do passado me mostra que eles estão tão distantes quanto às coisas que eu quero para o futuro. E hoje, sentindo-me no meio do caminho, pensei muito em ambas as direções. Lamentei muito ter escolhido algumas atitudes, estradas e pessoas em detrimento de outras. Hoje vejo alguns lampejos de felicidade alheia e noto que talvez devesse ter dirigido para outra trajetória. Sonhos que me parecem distantes sendo realizados por gente próxima não provocam a chamada inveja, mas sim uma pequena tormenta mental, por conta das escolhas e resultados.
Passei maus momentos recentemente, mas não menos anteriormente. Chorei sozinho, mostrando-me forte quando a última coisa que eu gostaria de ver era a cara de alguém. Não pude fazer aquilo que muitas pessoas dizem ser minha maior virtude, amparar, por que mal tinha forças para mim. Apostei alto, perdi tudo. Ou quase tudo.
Tem coisa que acontece na vida da gente uma vez só. Tem oportunidades que até voltam, mas às vezes em momentos que já não fazem mais sentido algum. Mas a maioria delas é de fato única. Em meio a tantas coisas que podem ser chamadas de derrotas, eu vivi outras tantas muito lindas e fantásticas, cuja simples lembrança já faz disparar serotonina e ter um pouco de acesso à química da felicidade, mesmo em péssimas horas. Faz-me chegar à conclusão de que eu faria tudo de novo, igualzinho, mesmo sabendo que talvez tivesse o mesmo desfecho: não atingir minhas metas mais íntimas. Por que a felicidade, ainda que curta, ainda que tardia, ela não pode ser adiada. Ela tem que ser vivida.
Aqueles que assim como eu acreditam que há outras vidas, em hipótese alguma deveríamos nos preocupar tanto com as dores que passamos nesta. Não há mal em buscar a plenitude, a paz, a felicidade (embora fique para mim cada vez mais nítido que feliz é quem se engaja no bem ao próximo, pois dá sentido maior à sua existência).
Hoje que acredito ter chegado à metade da vida, penso que valeu a pena todos os riscos, pois vivi sonhos e experiências que de alguma forma me marcarão eternamente. Se eu senti dores, se desenvolvi rancor, ódio em algumas jornadas, tudo também foi válido. Doeu muito eliminar estes sentimentos, foi um trabalho penoso, mas eles me elevaram de tal forma que me sinto feliz pelo simples fato de dizer que é possível sofrer bastante, se elevar e continuar amando (a vida, o próximo, aquele que te fez mal, etc.). Se um indivíduo quer ser feliz e aprendeu que isso se conquista através de fazer o bem, pois que se jogue na vida.
Se nós pretendemos buscar algo bom, que procuremos incessantemente, independente do resultado, do medo. A tristeza inerente aos nossos dias presentes pode persistir, mas já estamos acostumados com ela. Mas os momentos, ainda que curtos, de intensa felicidade, viverão na memória do espírito eternamente.
OBS: e se falo que acredito ter chegado à metade é por que penso que 72 anos é um bom tempo para se viver neste planetinha. Alzheimer me faria esquecer coisas legais e Parkinson faria derramar cerveja. Setenta e dois anos estarão de bom tamanho.
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