Abaixo a transcrição da coluna desta quarta feira, dia trinta e um de agosto de dois mil e onze, do jornalista Clóvis Rossi da (FALHA) folha de são paulo. Para ler e pensar a respeito
Quando a polícia é que tem medo.
"El País", o grande jornal espanhol, publica na capa desta terça-feira uma foto que acaba sendo um instantâneo da triste história da violência na América Latina: três policiais mexicanos conduzem dois presos, acusados de responsáveis pelo incêndio em um cassino de Monterrey, na semana passada, que causou a morte de 52 pessoas.
Detalhe revelador --e assustador: os soldados estão encapuzados, só os olhos à mostra, ao passo que os detidos exibem o rosto descoberto, sem sinal de medo. Pertencem, diz a legenda, ao cartel dos Zetas, um dos muitos grupos do crime organizado que ensanguentam o México faz anos.
A legenda da foto deveria ser assim, para contar a história real: a polícia tem medo e esconde o rosto, mesmo cumprindo o seu dever; a criminalidade não teme nem a prisão nem a polícia.
No Brasil, estamos longe de um retrato similar? Acho que não. É só lembrar dois acontecimentos relativamente recentes:
1 - Os ataques do PCC em São Paulo, em 2005. A polícia ficou com medo dos criminosos. Tanto que passou a proteger suas dependências, temerosa da repetição de ataques. Em circunstâncias normais, postos policiais dispensam proteção porque os criminosos querem é passar longe deles.
2 - Sem o apoio das Forças Armadas, a polícia do Rio de Janeiro não teria conseguido recuperar territórios, como o Morro do Alemão, controlados pelo narcotráfico fazia já um bom tempo. Posto de outra forma: a força da polícia é inferior à do crime organizado.
Nesse cenário, dá até para entender a reação de uma parte do leitorado que apoia a violência da polícia exibida no vídeo do "estrebucha". Mas é uma reação completamente equivocada.
Primeiro porque permitir que a polícia funcione como pelotão de execução é dar um passo mais em direção à barbárie.
Segundo porque a única maneira de devolver o medo aos bandidos é reduzir o grau de impunidade, o que, por sua vez, passa, entre outros pontos, pelo reequipamento das forças policiais, pelo reforço do trabalho de investigação e inteligência e, na minha opinião, pelo aumento das penas e menor flexibilização na sua aplicação.
É mais difícil e mais demorado do que linchar algum prisioneiro, mas se linchamento fosse solução estaria nas leis de países em que a polícia não precisa esconder o rosto.
Disponível no site
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/clovisrossi/968106-quando-a-policia-e-que-tem-medo.shtml
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